quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Um modo de ver diferente

Bem...
Não existe apicultura antroposófica. Não no sentido de classificá-la como apicultura planejada, racionalista, predatória ou mesmo espiritualista.
Mas existe um modo de ver diferente.
Apicultura antroposófica á apenas um nome que dei a esta página para falar sobre o cultivo de abelhas a partir de uma perspectiva antroposófica, a partir de uma visão científico-espiritual, uma visão holística.
Quando um cultivador de abelhas lida com elas, está na verdade diante de um modelo de sociedade extremamente organizada onde a cooperação, a pureza e o respeito tão aspirado por uma parte da sociedade humana, flui de uma forma incrivelmente espontânea, numa sintonia perfeita.
Mas é curioso também como o homem teme lidar com esta pureza. Teme lidar com um enxame. Teme lidar com o desconhecido.
Certamente, isto não é um convite a quem quer que seja, a mergulhar de cabeça em um enxame! Ao ser picado por uma abelha, principalmente se for alérgico, vá ao médico, tome as providências cabíveis. Mas em paralelo reflita: "Até que ponto tenho sido imprudente em minha vida?"; "Até que ponto tenho criticado vorazmente a sociedade em que vivo, estando de braços cruzados sem fazer nada?"; "Até onde tenho cooperado em todos os setores de minha vida"; "Até que ponto tenho negligenciado meu estado de pureza, a busca pelo belo a troco de trilhar um caminho aparentemente mais fácil?"
Mas se foi seu filho que "sofreu a agressão", pergunte-se todas estas coisas e mais... "O que tenho transmitido de bom às pessoas que amo?"
Enfim, deixo uns dizeres de Plotino que, até onde sei, não era apicultor, mas sim filósofo Neoplatônico. Isto pode interessar muito mais àqueles que no fim de um dia intenso lidando com as colméias, sentem-se na verdade, ao invés de cansados, preenchidos de um bem-estar, talvez comparado à meditação.
"Que a paz reine em sua vida corporal e suas manifestações, e em tudo o que a circunda: na terra, no mar e no ar e até nos céus, sem que aja a menor agitação. Que a alma observe como, por assim dizer, ela se derrama e penetra nesse cosmo que se acha em perfeito repouso. Assim como os raios solares iluminam uma nuvem escura, dando-lhe um brilho dourado, assim a alma proporcionará vida e imortalidade ao corpo do Universo inscrito nos céus." (Plotino)
Gloria

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

As abelhas...uma vivência pessoal


Eu estava pensando nas abelhas...
Morei um tempo no mato. Criava abelhas, então aprendi aos poucos a observar o comportamento delas.
Numa temporada de colher o mel, um amigo, também apicultor, me ligou perguntando se eu teria uma quantia extra para fornecer já que ele havia recebido um pedido inesperado. Saí até o apiário para verificar se poderia atendê-lo. Fui sem fumegador, que espanta as abelhas e sem a roupa protetora, já que não tinha necessidade de abrir as caixas para saber se tinha mel. É só observar se a colméia está bem protegida (com excesso de própolis).
Uma das primeiras recomendações que recebemos para se aproximar das abelhas é que não se deve usar perfumes. “Abelhas não gostam! Elas atacam!”
Neste dia esqueci que havia acabado de lavar os cabelos e eles estavam levemente perfumados. Cheguei lá, dei uma volta em torno das colméias e aí me lembrei que estava exalando perfume. É claro que fiquei tensa, a temperatura do corpo aumentou, mas como já tinha observado todas as caixas, saí lentamente. Quando já começava a me afastar do apiário, um grupo delas voou direto nos meus cabelos. A única coisa que consegui pensar é que se eu me agitasse, em poucos minutos poderia estar morta. Respirei fundo e continuei andando lentamente com “aquele zum zum zum na minha cabeça”. Depois de um tempinho, uma boa parte “desistiu de mim”.
Chegando em casa, sem levar nenhuma picada, ainda haviam algumas penduradas no meu cabelo. Fiquei pensando o que “aquilo” queria dizer (além do fato de eu ter sido um pouco imprudente).
Pesquisei vários materiais tentando saber por que elas “NÃO GOSTAVAM” de perfume, já que o que atrai uma abelha até a flor é o perfume e o calor (este último contribui para que o perfume se intensifique; quando ocorre a floração, a flor sempre apresenta uma temperatura maior que o resto da planta ou árvore). Não encontrei nada que confirmasse a hipersensibilidade das abelhas capacitando-as a detectar que um perfume artificial contém elementos químicos que não as agradem, enfim...
Também posso não ter pesquisado o suficiente, então não estou fechada para qualquer outra possibilidade! Mas o que eu senti, o que eu guardo como entendimento é que na verdade “ELAS NÃO NOS ATACAM” quando estamos perfumados. Elas vêm até nós para extrair “nosso néctar”. Já que ficamos quentes e exalamos o perfume. A diferença é que a flor não reage à investida da abelha, ao contrário de nós.
Ali há uma troca perfeita pois a flor contribui para a produção do alimento doce e a abelha de certo modo perpetua a existência daquela qualidade de flor. E mesmo quando ficamos agitados e reagimos, na verdade elas “NÃO ATACAM!”
Mesmo que tenhamos recebido alguma picada, só recebemos porque reagimos; ainda assim há um benefício! No ferrão de toda abelha sempre há uma pequena quantia de própolis que antes de ser um remédio de vasta eficácia, é uma espécie de resina obtida pelas abelhas de várias fontes vegetais para proteção.
A agitação, o temor, tornam o perfume ruim, talvez semelhante ao cheiro dos predadores da colméia ou do enxame, então aí talvez possamos lembrar em algum nível um predador. Na verdade a única intenção é proteger a colméia.
Sempre que levei uma picada de abelha, para mim era como se eu estivesse ganhando sempre um pouco mais de imunidade para o organismo!
Bem, um biólogo pode até dizer que é balela. Mas pelo menos eu sobrevivi. ficando quieta, pra poder estar escrevendo hoje um pouco aqui!
Gloria